(Conclusão)
A RODA QUEBRADA-III
(CONTO)
Quando a jovem o apresentou aos familiares progenitores, nem queria acreditar que, na sua frente estava o padeiro que um dia, era ele ainda um miúdo incauto e despreocupado, lhe desfizera em duas a sua roda de brincadeira, mal tinha acabado de ser feita. E, pior do que isso, se tinha divertido com o facto soltando uma gargalhada a troçar da sua desilusão!
Mal refeito da surpresa, voltou a si quando a voz da sua acompanhante pronunciou o seu nome para o apresentar aos pais, tendo correspondido ao gesto do aperto da mão, que lhe era estendida, do malvado e insensível padeiro de que nunca se esquecera, sem lhe notar vislumbre de sentimento que valesse o perdão do desgosto antigo de que ele fora o causador. E, a promessa que, então, a si próprio fizera de o fazer pagar com a bicicleta a maldade de que sofrera espevitou-se, de repente, na sua memória onde continuava o espaço em branco onde tencionava escrever o epílogo da estória.
Museu do Pão, Seia (Serra da Estrela).
Prudentemente, achou por bem não aludir ao episódio ocorrido no passado entre ambos e agradou-lhe pensar que o pai da moça por quem se tinha deixado enfeitiçar já o teria até esquecido. E, quando reparou na bicicleta em que o antigo padeiro se deslocava com o saco de pão na altura do acidente que lhe provocou a perda da roda, um impercetível eenigmático sorriso aflorou nos seus lábios como se, naquele momento, lhe tivesse ocorrido um pensamento cuja consumação há muito desejava…
Prudentemente, achou por bem não aludir ao episódio ocorrido no passado entre ambos e agradou-lhe pensar que o pai da moça por quem se tinha deixado enfeitiçar já o teria até esquecido. E, quando reparou na bicicleta em que o antigo padeiro se deslocava com o saco de pão na altura do acidente que lhe provocou a perda da roda, um impercetível eenigmático sorriso aflorou nos seus lábios como se, naquele momento, lhe tivesse ocorrido um pensamento cuja consumação há muito desejava…
Nos dias que trouxe consigo para o gozo das férias em Portugal, encontraram-se a sós em locais de convívio mais quatro vezes, na última das quais se comprometeram em firmar um relação de namoro com vista à união pelo casamento, a celebrar na igreja onde ambos receberam o batismo. Volveu, de novo à França, com a promessa de regressar nos próximos três meses e, ainda antes de terminar o período mutuamente aceite, estava de volta como fora combinado e ambos desejavam.
Ficaram noivos e, seis meses depois, estavam casados. Seguiram em caravana automóvel para a quinta onde estava marcada a boda e, no fim do banquete e do baile que se seguiu, ia longa a noite quando os nubentes rumaram à casa nova que o noivo tinha mandado construir. Lá chegados, ao entrar no quarto do leito de núpcias com a bela filha do padeiro, tinha junto da cama uma bicicleta, que, sendo em tudo igual, não era outra senão a do pai da sua noiva que ele montava e fizera passar por cima do primeiro grande amor que já possuíra.
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O que se passou depois é segredo de alcova que, manda o decoro e o cavalheirismo, não pode nem deve ser violado. Mas, para os que estavam a imaginar um final diferente para a estória aqui contada, sempre divulgarei que o casal, passados que estão já alguns anos sobre os sucessos aqui descritos, continua muito feliz e a família que formaram possui sete maravilhosas bicicletas… sem contar com a do avô materno!
FIM
Remígio Costa/Fevereiro de 2013.
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